segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Faltam 3 mil leitos em UTIs neonatais no país


O Brasil precisa aumentar em 30% a oferta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais para atender à recomendação do Ministério da Saúde (MS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Isso significa que deveriam ser montados 3,3 mil novos leitos em todo o país – atualmente, existem 7,7 mil vagas, grande parte concentrada nas regiões Sul e Sudeste. No Paraná, a necessidade de expansão é de 30%, o que representa mais 181 novos leitos.

A SBP e o MS recomendam quatro leitos de UTI para cada mil bebês nascidos vivos. Em todo o país, segundo o IBGE, nascem cerca de 2,76 milhões de crianças por ano. Dessa forma, o território nacional deveria abrigar em torno de 11 mil leitos em UTIs neonatais destinados a bebês com menos de 28 dias e em risco de vida. Hoje, o país dispõe de apenas 3,8 mil unidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

No Paraná, a situação não é diferente. Como nos últimos cinco anos, segundo o IBGE, nasceram em média 150 mil crianças por ano, a rede hospitalar paranaense, pública e privada, deveria dispor de 600 vagas. Os hospitais contam com 419, ou seja, aproximadamente 70% do ideal. Se levar em conta somente o número da rede pública, a oferta é de 286 leitos.

Barreiras
A falta de investimento e a dificuldade em conseguir profissionais especializados na área são apontados como os principais entraves na saúde pública destinada a recém-nascidos no país. Neste ano, o governo estadual credenciou mais 22 UTIs neonatais no SUS. Contudo, a iniciativa ainda não é suficiente para atender à demanda existente em todo o Paraná.

A presidente do departamento de Neonatologia da Sociedade Paranaense de Pediatria, Gislaine Nieto, acredita que a atual situação do setor é extremamente preocupante. Para ela, além da construção de novos leitos, é essencial que toda a estrutura que envolve a saúde de recém-nascidos no estado seja revista. “Há uma dificuldade enorme em fazer o transporte do bebê que está em alto risco de vida. Além da dificuldade de encontrar leitos, a logística do atendimento deve ser melhorada. Sem falar que profissionais específicos de neonatologia não são reconhecidos, o que leva a uma falta de médicos no setor”, ressalta. O salário, por hora, de um médico em UTI neonatal gira em torno de R$ 50.

Para o procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Saúde, Marco Antônio Teixeira, a necessidade de implantar leitos de UTI neonatal no Paraná é antiga. “Nós estamos com uma ação desde 2006 para que o poder público estadual crie mais UTIs. E até agora a determinação não foi cumprida. Esse é um setor que carece de muitos cuidados e investimentos”, avalia.

A má distribuição geográfica dos leitos é outro gargalo no setor, segundo o diretor de Urgência e Emergência da Secretaria de Estado da Saúde, Vinicius Filipak. Do total de vagas no Paraná, 179 estão alocadas na região de Curitiba, o que corresponde a 43% do total de leitos. “A gente tem uma carência muito grande no interior de todo o estado. Em números brutos, nós até podemos estar dentro das nossas necessidades. Mas essa distribuição desigual provoca o drama de vários pais e mães em todo o Paraná, que não encontram vaga para seus filhos”, salienta.

Em trabalho de parto e sem vaga por três dias
Os dias 14, 15 e 16 de agosto de 2011 não sairão tão cedo da memória de Cláudia Matos, 29 anos, e Adriano Luiz Ferreira, 36 anos. Aos sete meses de gravidez, ela entrou em trabalho de parto e corria o risco de perder o bebê. Como a gravidez era considerada extremamente preocupante, era necessário conseguir uma vaga em UTI neonatal. Porém, as 10 vagas existentes em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, estavam lotadas.

“A gente estava com as mãos atadas. Batia o desespero toda hora. Não sabia mais o que fazer”, conta Ferreira. Três dias depois de ser internada, com perda de líquido amniótico, Cláudia conseguiu uma vaga pelo Sistema Único de Saúde para um hospital com leito em UTI neonatal disponível. A vaga aberta era em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, a 87 quilômetros de Ponta Grossa. O sofrimento continuava. “Tinha a vaga, mas não tinha transporte. Levaram a gente para lá dentro de uma kombi depois de horas de espera”, indigna-se Adriano.

Medo
Além dessa situação, o medo do casal se repetia. Há dois anos, o casal havia sofrido com as dificuldades do sistema público de saúde. Na época, Cláudia estava grávida de gêmeos e segundo ela, devido à demora no atendimento médico, perdeu os bebês. “A gente estava com muito medo de perder de novo um filho nosso. Ainda bem que dessa vez deu certo”, diz Cláudia.

Ana Luiza nasceu prematura e ficou 10 dias em uma UTI. Apesar de estar em casa, os cuidados extras não cessaram. Como a bebê tem menos de dois quilos, o risco persiste. “A gente tem que ir toda hora fazer acompanhamento médico para que nossa filha fique saudável”, afirma a mãe.

Fonte: Gazeta do Povo

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